Livro ‘Hiroshima’ conta a história de seis sobreviventes da bomba atômica
Escrito pelo jornalista americano John
Hersey, Hiroshima (editora Companhia das Letras, coleção
Jornalismo Literário, 176 p.) conta como foi a explosão da bomba atômica
baseado nos relatos de seis sobreviventes. Considerada uma das mais
importantes reportagens do século XX, foi elaborada um ano depois da explosão e
o livro teve seu complemento 40 anos mais tarde.
A bomba atômica atingiu Hiroshima em 6 de agosto de
1945, durante a Segunda Guerra Mundial. Senhorita Toshiko Sasaki, doutor
Masakazu Fujii, senhora Hatsuyo Nakamura, padre Wilhelm Kleinsorge, doutor Terufumi
Sasaki e reverendo Kiyoshi Tanimoto são os personagens que representam milhares
de vítimas.
Hersey escreve em terceira pessoa, não emite
opiniões nem se coloca na história, apenas reporta fatos. Sua descrição é
precisa, ele faz com que o leitor esteja presente na narrativa; por vezes quem
lê até percebe sentimentos e sensações através de seu texto. Ele inicia a
reportagem a partir da explosão e relata o que cada personagem fez desde então.
O jornalista extrai depoimentos minuciosos de cada um e contextualiza-os com os fatos políticos, econômicos, sociais e culturais do Japão. Ele toca sentimentos universais quando trata de temas como morte, perda (material, moral e psicológica), dor, coragem, resignação e união. Hersey apresenta a cultura japonesa, tão complexa e distinta para ele, de maneira objetiva e respeitosa.
Cada capítulo conta uma consequência da bomba para a população. Ao ler o livro, percebe-se que a história atravessa o caos, que se seguiu após a explosão, até chegar na reconstrução da cidade e no recomeço da vida dos japoneses e dos hibakushas (as pessoas atingidas pelos efeitos da bomba). A matéria revela a superação deles, mostra o quanto aquele povo sofreu e alerta o mundo sobre a capacidade de destruição da arma.
A reportagem foi publicada em agosto de 1946 na
revista americana The New Yorker. A edição vendeu todos os 300 mil exemplares quando
chegou às bancas. Hersey quer revelar histórias humanizadas do ocorrido.
Ele ficou na contramão das publicações americanas que trataram o assunto como um
êxito militar ou um mal necessário; esse também era um dos objetivos da
revista.
O trabalho foi fruto da competência jornalística de Hersey, da ousadia de Harold Ross, fundador da The New Yorker, e da criatividade do diretor William Shawn, que convenceu Ross a publicar a reportagem de uma só vez (das 68 páginas da edição, apenas uma das seções regulares foi mantida, a programação cultural).
No último capítulo do livro, o jornalista volta
para Hiroshima 40 anos depois da explosão e encerra a história contando como
estava a vida daquelas seis pessoas e o que elas fizeram. Apesar do
tempo, Hersey mantém a densidade de seu texto e continua a contextualizar
a história dos personagens com os fatos políticos, econômicos, sociais e
culturais japoneses, além de citar o desenvolvimento nuclear durante a segunda
metade do século.

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