Brasil permanece neutro e busca a paz na guerra entre Rússia e Ucrânia
Em 24 de fevereiro, a guerra na Ucrânia completou um ano. Considerado o maior conflito militar na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, a invasão russa na Ucrânia trouxe tristes cenas de miséria e de dor para o mundo. Além disso, milhões de ucranianos deixaram o seu país ou precisaram se deslocar de uma região para outra dentro da própria Ucrânia.
Desde o ano passado, no governo de Jair Bolsonaro, o Brasil adotou uma posição neutra no conflito, ou seja, não apoiou diretamente a Rússia nem a Ucrânia. Dias antes da invasão russa na Ucrânia, Bolsonaro manteve a agenda e fez uma arriscada viagem oficial à Rússia para estreitar laços diplomáticos e fazer acordos comerciais, mesmo a contragosto dos Estados Unidos e da União Europeia.
Depois, por vias diplomáticas na Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil condenou os ataques russos, fez oposição à Rússia e pediu uma solução pacífica. Ao mesmo tempo, o país não fez parte do grupo de países, liderado por Estados Unidos e União Europeia, que impôs graves sanções econômicas contra os russos.
Ainda no ano passado, a Alemanha solicitou a compra de munição brasileira para abastecer equipamentos e armas da Ucrânia. O pedido foi negado. Em janeiro, o Brasil negou mais um pedido feito pelos alemães. No encontro em Brasília com o primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, o presidente Lula disse que o Brasil não vai participar da guerra, nem indiretamente, e que é necessário um acordo de paz.
Por que o Brasil adota essa postura mesmo com governos diferentes?
Historicamente, o país permanece neutro e estimula soluções pacíficas para guerras e conflitos. A constituição brasileira também aponta nessa direção. O objetivo do Brasil é manter relações diplomáticas e comerciais com todos os países do mundo, apesar de estar mais ligado social e culturalmente ao Ocidente.
Por exemplo, o Brasil compra boa parte dos fertilizantes produzidos pela Rússia. Isso é fundamental para o agronegócio, que é responsável por 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Aliás, esse setor da economia emprega cerca de 19 milhões de pessoas em todos os níveis da cadeia de produção, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
Na outra direção, o Brasil reconheceu a independência da Ucrânia em 1991, após o fim da União Soviética, e as relações bilaterais foram estabelecidas logo em 1992. Recentemente, os dois países procuraram construir uma parceria na área da indústria espacial. Hoje, o Brasil possui a terceira maior população ucraniana fora da antiga União Soviética, com cerca de 500 mil ucranianos.
Infelizmente, a guerra parece estar longe do fim. A Ucrânia defende sua liberdade, sua autonomia e quer de volta a integridade do seu território. A Rússia se sente ameaçada porque a Ucrânia quer entrar na União Europeia. Os russos acreditam que o próximo passo seria a Ucrânia fazer parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a aliança militar do Ocidente que poderia deixar armas muito próximas da fronteira entre os dois países.
De qualquer forma, nada justifica a Rússia invadir outro Estado ou território, desrespeitar o direito internacional e gerar uma guerra. Agora, os russos buscam o apoio da China. Por outro lado, a Ucrânia, além de se defender, precisa buscar um acordo de paz eficaz. A ajuda da OTAN, dos Estados Unidos, da Alemanha e da Europa é fundamental para a sobrevivência militar da Ucrânia. Entretanto, o fornecimento de armas e munição tem um limite, esses países não vão comprometer a sua própria segurança para proteger a Ucrânia.
A situação é complexa, mas a posição do Brasil segue firme. Outros países da América Latina e países emergentes também adotaram a neutralidade porque não querem participar da guerra e não enxergam nenhum benefício geopolítico com esse conflito. Por enquanto, para esses países, inclusive o Brasil, a questão da segurança global e a importância de “frear” a Rússia não está acima dos interesses nacionais e comerciais.
A participação de países neutros como Brasil, Argentina, África do Sul, China e Índia é essencial para a construção de um acordo de paz e a conclusão dessa guerra. O mundo já enfrenta sérias dificuldades sociais e econômicas, além de ainda estar se recuperando dos efeitos da pandemia de Covid-19. Os países precisam ter recursos para enfrentar os desafios globais, porém bilhões de dólares são usados para alimentar a guerra na Ucrânia, que é apenas um dos conflitos ativos no planeta. A solução pacífica é urgente.

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